quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Resenha 1: "À Beira do Abismo", de Asger Leth

Sam Worthington e Elizabeth Banks em À Beira do Abismo. © Summit Entertainment.
Man on a Ledge, EUA, 2012. Crime/Suspense. 102 minutos. Direção: Asger Leth. Escrito por: Pablo F. Fenjves. Elenco: Sam Worthington, Elizabeth Banks, Jamie Bell, Genesis Rodriguez, Anthony Mackie, Ed Harris. Classificação indicativa: 12 anos. 

Antes de entrar na sessão para ver À Beira do Abismo, já dava para fazer ideia dos artifícios narrativos dos quais o filme, dado o gênero, lançaria mão. Conforme os 102 minutos se passaram, muitos deles foram confirmados: o flashback explicando como tudo começou, o velho amigo que resolve ajudar o protagonista, os momentos cômicos fornecidos por uma dupla de coadjuvantes, o vilão fleumático e calculista.

Lugares-comuns, como se pode ver, há em abundância no thriller do desconhecido diretor Asger Leth. Não obstante, À Beira do Abismo tem, a princípio, uma premissa interessante: um tal de sr. Walker — que obviamente está mentindo sobre seu nome — entra no Hotel Roosevelt, em Nova York, aluga um quarto no último andar, e, ao ver-se sozinho, sai pela janela e dependura-se no estreito parapeito. Lá em baixo, na rua, pedestres logo reparam no procedimento do suposto suicida — "jumper", como é conhecido no áudio original — e a polícia é acionada. O filme, então, volta no tempo para mostrar como o homem, que é ex-policial e na verdade se chama Nick Cassidy, tornou-se um fugitivo da polícia, após ser indiciado pelo roubo de um diamante milionário e condenado a 25 anos de cárcere.

De volta ao presente, a polícia já tomou conta da cena e tenta convencer Nick a voltar pra dentro. Enquanto a multidão na rua entusiasma-se com o acontecimento, o homem no parapeito — o que seria mais ou menos uma tradução livre do título em inglês — permanece irredutível aos apelos de um negociador, e, embora não faça exigências, ameaça pular se não falar com uma mulher — a psicóloga policial Lydia Mercer, para ser mais específico. É aí que entra em cena o enredo paralelo: um homem e uma mulher — ele, como visto no flashback, é irmão de Nick —, aproveitando-se da distração da polícia e dos pedestres, tentam se infiltrar no prédio vizinho.

Nesse ponto, o filme anuncia-se como um bom suspense de ação, daqueles repletos de reviravoltas. Descobrimos que a negociadora requisitada por Nick fracassou da última vez em que tentou convencer um homem a não pular (da Ponte do Brooklyn, no caso), e que, por isso, está com a autoconfiança em frangalhos. Acaba-se estabelecendo também, conforme o esperado, um elo entre o homem que ameaça pular e o crime que se dá no prédio ao lado. Nick até fala algo a respeito de uma tal "escolha" que Lydia terá que fazer mais pra frente, levantando as expectativas. Conforme o diálogo entre os dois toma forma, as duas hipóteses entram em conflito: será o comportamento do protagonista fruto de seu desespero ou apenas mera distração para o que quer que esteja acontecendo no enredo paralelo?

Uma vez estabelecido o ritmo do filme, mais fatores vão sendo adicionados à equação. A polícia descobre a verdadeira identidade do homem. Ele afirma que é inocente. No geral, À Beira do Abismo mostra-se eficiente como entretenimento: o fluxo é consistente, a ação é elaborada e a química entre Sam Worthington e Elizabeth Banks é boa. É pena que, no meio do caos provocado pelo "jumper" em Nova York, venham à tona clichês gritantes — da repórter hipócrita (bem-interpretada pela estrela de The Closer, Kyra Sedgwick) que não mede esforços na cobertura do evento ao hippie que protesta contra a ação da polícia — e o filme acabe se tornando previsível. Há, sim, bons momentos — a exemplo de uma das raras cenas genuinamente divertidas, na qual Nick, tentando induzir a multidão a invadir a área isolada e interromper a ação da polícia, joga dinheiro para o alto —, mas eles são sobrepujados por uma narrativa confusa (há apenas um flashback, que nos revela muito pouco) e sem surpresas, uma direção apagada e um fraco elenco. Worthington está o mesmíssimo de Avatar — filme do qual ele vem tentando, sem sucesso, desassociar sua imagem; Banks não acrescenta nada à sua formulaica peraonagem; as cotas raciais são evidentes na escolha do casting. Nem mesmo o veterano Ed Harris, a quem é dado o raso papel do empresário arrogante que arruina a vida de Nick, convence.

Nem todos esses problemas, porém, são suficientes para tornar justificável o maior deslize do filme: uma conclusão morna, previsível e risivelmente feel-good. Todo homem tem seu limite, atesta o pôster de À Beira do Abismo: o do espectador é atingido assim que os créditos finais começam a rolar e fica-se perguntando "Acaba assim?". Até esse momento, no entanto, a trama prende a atenção o bastante para deixar o espectador se perguntando "Afinal, ele vai ou não vai pular?".


Classificação final:

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